terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Capítulos Last Sacrifice...

Hoje to com as bixas a mil esperando o lançamento do livro...
P quem ouviu falar dos 4 primeiros capítulos que vazaram, fui em busca para ver se batia com o que a Richelle disponibilizou...E adivinhem o primeiro é igual ao dela...Portanto acho que os outros três tb fazem parte do livro...

Pra quem quiser conferir...

Só ler abaixo....

UM


EU NÃO GOSTO DE PRISÕES.

Eu nem vou ao zoológico. A primeira vez que fui em um, eu quase tive um ataque de
claustrofobia olhando para aqueles pobres animais. Eu não conseguia imaginar nenhuma
criatura vivendo desse jeito. As vezes eu me sentia um pouco mal pelos criminosos,
condenados a viver a vida numa cela. Eu certamente nunca esperei passar minha vida em uma.

Mas ultimamente, a vida parece estar me jogando muitas coisas que eu nunca esperei, porque
aqui estou eu, presa.
“Hey!” eu gritei, agarrando as barras de ferro que me isolavam do mundo. “Quanto tempo vou
ficar aqui? Quando é meu julgamento? Vocês não podem me manter nessa masmorra para
sempre!”

Ok, não era exatamente uma masmorra, não daquele jeito escuro e cheio de correntes. Eu
estava dentro de uma pequena cela com paredes comum, chão comum... tudo comum.
Impecável. Estéril. Frio. Na verdade era mais deprimente do que qualquer masmorra que eu já
tinha visto. As barras na porta eram frias contra minha pele, duras e inflexíveis. Luzes
florescentes faziam o metal brilhar de um jeito de um jeito que parecia duro e irritava meus
olhos. Eu podia ver o ombro de um homem parado do lado da entrada da cela e sabia que
provavelmente havia mais quatro guardiões no corredor fora da minha vista. Eu também sabia
que nenhum deles ia me responder, mas isso não me impediu de constantemente exigir
respostas deles, nos últimos dois dias. 

Quando o silêncio usual continuou, eu suspirei e voltei para a cama fria da cela. Como tudo na
minha nova casa, a cama não era sem cores e dura.  Yeah. Eu realmente estava começando a
desejar que eu estivesse numa masmorra de verdade. Ratos e teias pelo menos me dariam
algo pra ver. Eu olhei pra cima e imeddiatamente tive uma sensação desorientadora que eu
sempre tinha aqui: que o teto e as paredes estavam se fechando ao meu redor. Como se eu
não conseguisse respirar. Como se a lateral das celas viessem em minha direção até não sobrar
mais espaço, empurrando todo o ar...

Eu sentei abruptamente, ofegando. Não encare as paredes e o teto, Rose, eu disse a mim
mesma. Ao invés disso,  olhei para minhas mãos e tentei entender como me meti nessa
confusão.

A resposta inicial era obvia: alguém tinha armado e me acusado de um crime que eu não
cometi. E não era qualquer crime. Era assassinato. Eles tiveram a audácia de me acusar do
maior crime que um Moroi ou dhampir podem cometer. Agora, isso não significa que eu não
matei antes. Eu matei. Eu já tinha quebrado minha cota de regras (e até leis). Assassinato a
sangue frio, no entanto, não está no meu repertoria. Especialmente não o assassinato da
rainha.

Era verdade que a Rainha Tatiana não era minha amiga. Ela foi a fria e calculista governante
dos Moroi – uma raça de vampiros vivos que utilizam mágica e que não matam suas vitimas
para conseguir sangue. Tatiana e eu tivemos uma relação tortuosa por vários motivos. Um
deles era porque eu estava saindo com seu sobrinho-neto, Adrian. O outro era minha desaprovação de suas policias e como lutar com um Strigoi – os malignos vampiros mortos
vivos que nos perseguiam. Tatiana tinha me enganado varias vezes, mas eu nunca a quis
morta. Alguém aparentemente queria, no entanto, e eles deixaram um rastro de evidencia que
levava diretamente até mim, o pior deles, as minhas digitais por toda a estaca que tinha
matado Tatiana. É claro, era minha estaca, então, naturalmente, tinha minhas digitais.
Ninguém parecia pensar que isso era relevante. 

Eu suspirei de novo e tirei meu amassado pedaço de papel do bolso. Meu único material de
leitura. Eu o apertei em minha mão, sem necessidade de ler as palavras. Eu já as tinha
memorizado. O conteúdo do bilhete me fez questionar o que eu sabia sobre Tatiana. Me fez
questionar muitas coisas. 

Frustrada com meus próprios arredores, eu sai deles e fui para outro: para os da minha melhor
amiga Lissa. Lissa era uma Moroi, e partilhamos uma ligação psíquica, uma que me permitia
entrar na sua mente e ver o mundo através dos olhos dela. Todos os Moroi tem algum tipo de
mágica elementar. Lissa era espírito, um elemento ligado a poderes psíquicos e de cura. Era
raro entre os Moroi, que normalmente usavam elementos mais físicos, e nós mal entendíamos
suas habilidades – que eram incríveis. Ela usou espírito para me trazes dos mortos alguns anos
atrás, e foi isso que formou nossa ligação. 

Estar na mente dela me libertava dessa jaula, mas oferecia pouca ajuda para meu problema.
Lissa tem trabalhado duro para provar minha inocência, desde a audiência que demonstrou
todas as provas contra mim. Minha estaca ser usada em um assassinato foi apenas o começo.
Meus oponentes foram rápidos em lembrar a todos sobre meu antagonismo sobre a rainha e
também tinham encontrado uma testemunha para comentar sobre meu paradeiro durante o
assassinato. Esse testemunho tinha me deixado sem álibi. O Conselho tinha decidido que
haviam evidencias o bastante para me mandar para um julgamento – onde eu receberia meu
veredicto.

Lissa esteve tentando desesperadamente chamar a atenção das pessoas e convencê-las de que
armaram pra mim. No entanto, ela tem tido problemas em encontrar alguém que escute,
porque toda a Corte da Realeza Moroi estava consumida com os preparativos para o
elaborado funeral de Tatiana. A mortde um monarca era um grande acontecimeto. Moroi e
dhampir – meio-vampiros, como eu – estavam vindo de toda parte do mundo para ver o
espetáculo. Comida, flores, decorações, até músicos... o negocio todo. Se Tatiana tivesse se
casado, eu duvidava que o evento seria tão elaborado. Com tanta atividade e corria, ninguém
se importava comigo agora. Até onde a maioria das pessoas se interessava, eu estava
seguramente presa e incapaz de matar de novo. O assassino de Tatiana tinha sido encontrado.
Justiça estava feita. Caso encerrado. 

Antes deu poder ver claramente os arredores de Lissa, uma comoção na cadeia me fez voltar a
minha própria cabeça. Alguém tinha entrado na área e estava falando com os guardas,
pedindo pra me ver.  Era minha primeira visita há dias. Meu coração bateu mais forte, e eu
corri até as grades, esperando que fosse alguém que me diria que isso foi tudo um terrível
engano. 

Meu visitante não era exatamente quem eu esperava. 

“Velho,” eu disse. “O que você está fazendo aqui?” 

Abe Mazur estava diante de mi. Como sempre, ele era alguém a ser contemplado. Estavamos
no meio o verão – quente e úmido, já que estavamos  no meio da rural Pensivania – mas isso não o impediu de usar um terno. Era um reluzente,  perfeitamente cortado e adornado com
uma gravata brilhante de seda púrpura e um cachecol combinando que pareciam um exagero.
Jóias douradas se destacavam contra sua pele, e ele parecia como se recentemente tivesse
feito sua barba negra recentemente. Abe era um Moroi, e embora não fosse da realeza, ele
tinha muita influencia entre eles. 

Ele também era meu pai. 

“Sou seu advogado,” ele disse alegremente. “Estou aqui para te dar conselhos legais, é claro.” 

“Você não é meu advogado,” eu lembrei ele. “E seu ultimo conselho não funcionou tão bem.”
Isso foi maldade minha. Abe – apesar de não ter nenhum treinamento legal – tinha me
defendido na minha audiência. Obviamente, já que eu estava presa e pronta para julgamento,
o resultado não foi muito bom. Mas, em toda minha solidão, eu percebi que ele tinha razão
sobre algo. Nenhum advogado, não importasse o quão bom fosse, poderia ter me salvado na
audiência. Eu tinha que dar crédito a ele por pegar uma causa perdida, embora, considerando
nossa relação, eu ainda não tinha certeza do porque ele tinha feito isso. Minha maior teoria
era que ele não confiava na realeza e que ele sentia uma obrigação paternal. Nessa ordem. 

“Minha performance foi perfeita,” ele argumentou. “Enquanto seu discurso, no qual você disse
‘se eu fosse a assassina’ não nos ajudou. Colocar essa imagem na cabeça dos juízes não foi a
coisa mais inteligente que você possa ter feito.” 

Eu ignorei o comentario e cruzei os braços. “Então, o que você está fazendo aqui? Eu sei que
não é apenas uma visita paternal. Você nunca faz algo sem motivo.” 

“É claro que não. Porque fazer algo sem razão?” 

“Não comece com seu circulo de lógica.” 

Ele piscou. “Não tem porque ter ciúmes. Se você trabalhar duro e colocar sua cabeça nisso,
você pode herdar minha brilhante habilidade logística algum dia.” 

“Abe” eu avisei. “Anda logo.” 

“Ok, ok,” ele disse. “Vim te dizer que o seu julgamento pode ser adiantado.” 

“O-o que? Isso são ótimas notícias!” Pelo menos, eu pensava que era. A expressão dele dizia
ao contrário. Dá ultima vez que ouvi, meu julgamento poderia estar a meses de acontecer. A
mera ideia disso – de ficar nessa cela por tanto tempo – me fazia sentir claustrofóbica de novo. 

“Rose, você entende que seu julgamento será quase idêntico a sua audiência. As mesmas
provas e o veredicto de culpada.” 

“Yeah. Mas deve haver algo que podemos fazer antes disso, não é? Encontrar provas para me
inocentar?” De repente, eu tive uma boa ideia de qual era o problema. “Quando você disse
‘adiantada’, o quão logo você estava falando?” 

“Idealmente, eles gostariam de fazê-la depois que o novo rei ou rainha fosse coroado. Você
sabe, parte das festividades pós coroação.” 

O tom dele era irreverente, mas enquanto eu o encrava, eu percebi o real significado.
Números pairavam em minha mente. “O funeral é essa semana, e as eleições são logo depois...
você está dizendo que eu poderia ir a julgamento e ser condenada em que... praticamente
duas semanas?”

Abe concordou.

Eu voei em direção as barras de novo, meu coração batendo contra meu peito. “Duas
semanas? Você está falando sério?”

Quando ele disse que o julgamento tinha sido adiantado, eu achei que seria em um mês.
Tempo o bastante para encontrar novas evidências. Como eu teria conseguido isso? É incerto.
Agora, o tempo estava correndo de mim. Duas semanas não era o bastante, especialmente
com tantas atividades na Corte. Momentos atrás, eu estava chateada com o enorme tempo
que eu tinha. Agora, eu tinha pouco tempo, e a resposta para minha próxima pergunta podia
fazer as coisas piorarem.

“Quanto tempo?” eu perguntei, tentando controlar o tremor na minha voz. “Quanto tempo
após o veredicto até eles... cumprirem a sentença?”

Eu ainda não tinha certeza do que herdei do Abe, mas parecíamos partilhar um claro traço:
uma enorme habilidade de dar más notícias.

“Provavelmente imediatamente.”

“Imediatamente,” eu me afastei, quase sentei na cama, e então senti uma nova onda de
adrenalina. “Imediatamente? Então, duas semanas. Em duas semanas, eu posso estar...
morta.”

Porque era isso – a coisa que pairava sobre minha cabeça no momento que se tornou claro
que alguém tinha armado as evidencias para armar contra mim. Pessoas que matam rainhas
não são enviadas a prisão. Elas são executadas. Poucos crimes entre os Moroi e dhampirs
tinham esse tipo de punição. Nós tentamos ser civilizados em nossa justiça, mostrando que
somos melhores que os Strigoi. Mas certos crimes, nos olhos da lei, merecem a morte.
Certamente as pessoas merecem também – digamos, como assassinos traidores. Enquanto o
total impacto do futuro caia sobre mim, eu me senti tremer e lagrimas ficaram perigosamente
perto de saírem dos meus olhos.

“Isso não está certo!” eu disse a Abe. “Isso não é certo, e você sabe disso!”

“Não importa o que eu acho,” ele disse calmamente. “Estou simplesmente dizendo os fatos.”

“Duas semanas,” eu repeti. “O que podemos fazer em duas semanas? Eu quero dizer... você
tem alguma pista, certo? Ou... ou... você pode encontrar alguém, até lá? Essa é sua
especialidade.” Eu estava tagarelando, e eu sabia que soava histérica e desesperada. É claro,
isso era porque eu me sentia histérica e desesperada.

“Vai ser difícil conseguir muita coisa,” ele explicou. “A Corte está preocupada com o funeral e
as eleições. As coisas estão desorientadas – o que é tanto bom quanto ruim.”

Eu sabia de toda preparação, por ter observado Lissa. Eu vi o caos. Encontrar alguma evidencia
nessa bagunça, seria difícil. Poderia muito bem ser impossível.

Duas semanas. Duas semanas, e eu poderia estar morta.
“Eu não posso,” eu disse a ele, minha voz se partindo. “Eu não... estou destinada a morrer
assim.” 

“Oh?” ele arqueou uma sobrancelha. “Você sabe como deveria morrer?”

“Numa batalha.” Uma lagrima conseguiu escapar, e eu rapidamente a limpei. Eu sempre vive
minha vida com a imagem de durona. Eu não queria isso partido, não agora, quando mais
importava. “Lutando.  Defendendo aqueles que eu amo. Não... não por uma execução.”

“Isso é um tipo de luta,” ele brincou. “Só não física.Duas semanas ainda são duas semanas. É
ruim? Sim. Mas é melhor que uma semana. E nada é impossível. Talvez uma nova evidencia
apareça. Você simplesmente terá que esperar para ver.”

“Eu odeio esperar. Esse lugar... é tão pequeno. Eu não consigo respirar. Vai me matar antes
que qualquer executor.”

“Eu duvido.” A expressão de Abe ainda era legal, com nenhum sinal de simpatia. Amor durão.
“Você sem medo lutou contra grupos de Strigoi, mas não consegue lidar com um espaço
pequeno?”

“É mais do que isso! Eu tenho que esperar todos os dias nesse buraco, sabendo que tem um
relógio passando, até minha morte, e quase nenhum jeito de impedir isso.”

“Algumas vezes, os maiores testes de força são situações que não parecem tão obviamente
perigosas. As vezes, sobreviver é a coisa mais difícil.”

“Oh. Não. Não.” Eu me afastei, andando em pequenos círculos. “Não comece com essa merda
nobre. Você parece o Dimitri quando ele costumava me dar essas lições de vida profundas.”

“Ele sobreviveu a essa situação. Ele sobreviveu a outras coisas também.”

Dimitri.

Eu respirei fundo, me acalmando antes de responder. Até essa confusão de assassinato,
Dimitri era a maior complicação na minha vida. Um ano atrás – embora pareça uma eternidade
– ele foi meu instrutor no colégio,  me treinando para ser um dos dhampirs guardiões, que
protegem os Moroi. Ele conseguiu isso – e muito mais. Nós nos apaixonamos, algo que não era
permitido. Nós lidamos com isso do melhor jeito que podíamos, até finalmente bolando uma
forma de ficarmos juntos. Aquela esperança desapareceu quando ele foi mordido e se tornou
um Strigoi. Foi um pesadelo para mim. Então, através de um milagre que ninguém acreditou
ser possível, Lissa usou espírito para transformar ele de volta em um dhampir. Mas as coisas,
infelizmente, não voltaram a ser como eram antes do ataque dos Strigoi.

Eu encarei Abe. “Dimitri sobreviveu a isso, mas ele estava horrível deprimido! Ele ainda está.
Com tudo.”

Todo o peso das atrocidades que ele cometeu como Strigoi o assombravam. Ele não conseguia
se perduar e jurou que nunca mais poderia amar alguém. O fato deu ter começado a sair com
Adrian não ajudou. Depois de inúmeros esforços, eu aceitei que Dimitri e eu tínhamos
terminado. Eu segui em diante, esperando ter algo real com Adrian agora.

“Certo,” Abe disse secamente. “Ele está deprimido, mas você é a alegria e felicidade em
pessoa.”

Eu suspirei. “As vezes falar com você é como falar comigo mesma: bem irritante. Tem algum
outro motivo pra você estar aqui? Além de dar essa terrível noticia? Eu estaria mais feliz
vivendo na ignorância.”

Não posso morrer desse jeito. Eu não deveria ser capaz de prever. Minha morte não é algo
circulado num calendário.

Ele deu de ombros. “Eu só queria ver você. E seus aposentos.”

Sim, ele tinha de fato, eu percebi. Os olhos de Abe sempre voltavam até mim, quando ele
falava, eu percebi: não havia duvidas que eu tinha a atenção dele. Não havia nada em nossa
ironia que preocupava os guardas. Mas de vez em quando, eu via olhar de Abe passar ao
redor, observando o corredor, minha cela, e qualquer outro detalhe que ele achava
interessante. Abe não tinha ganho sua reputação de zmay – a serpente – a toa. Ele sempre era
calculista, sempre buscando uma vantagem. Parece que minha tendência para planos malucos
vem de família.

“Eu também queria te ajudar a passar o tempo.” Ele sorriu e debaixo do seu braço, ele me
entregou algumas revistas e um livro através das barras. “Talvez isso ajude.”

Eu duvidava que distrações iriam fazer a minha contagem regressiva mortal, de duas semanas,
parecer mais suportável. O livro era O Conde de Monte Cristo. Eu o ergui, precisando fazer
uma piada, precisando fazer qualquer coisa para tornar isso menos real.

“Eu vi o filme. Seu simbolismo subentendido não é tão subentendido assim. A não ser que
você tenha escondido algum arquivo dentro dele.”

“O livro sempre é melhor que o filme.” Ele começou a se afastar. “Talvez tenhamos uma
discussão literária da próxima vez.”

“Espera.” Eu joguei o material de leitura na cama. “Antes de ir... em toda essa confusão,
ninguém comentou sobre quem de fato matou ela.” Quando Abe não respondeu
imediatamente, eu o olhei afiadamente. “Você acredita que eu não fiz isso, não é?” Até onde
eu sabia, ele achava que eu era culpada e só estava tentando me ajudar mesmo assim. Não
seria tão improvável.

“Eu acredito que minha doce filha é capaz de assassinato,” ele disse finalmente. “Mas esse
não.”

“Então quem fez isso?”

“Isso,” ele disse antes de se afastar, “é algo que estou trabalhando.”

“Mas você acabou de dizer que estávamos ficando sem tempo!Abe!” Eu não queria que ele
partisse. Eu não queria ficar sozinha com meu medo. “Não tem como consertar isso!”

“Só lembre-se do que eu disse na audiência,” ele respondeu.

Ele partiu, e eu sentei na cama, pensando no dia da audiência. No final, ele me disse – bem
fortemente – que eu não seria executada. Nem iria a julgamento. Abe Mazur não era de fazer
promessas sem sentido, mas eu estava começando a achar que até ele tinha seus limites,
especialmente já que prazo tinha sido reajustado.

Eu de novo peguei o pedaço de papel e o abri. Ele também tinha vindo da audiência, entregue
a mim por Ambrose – o servo de Tatiana.

Rose,

Se você está lendo isso, então algo terrível acontece. Você provavelmente me odeia, e não te
culpo. Eu posso apenas pedir que você confie que o que eu fiz com o decreto de idade foi
melhor para o seu povo do que o que os outros planejaram. Tem alguns Moroi que querem
forçar todos os dhampirs a servir, querendo ou não, usando compulsão. O decreto de idade vai
atrasar essa facção.

No entanto, eu escrevo a você com um segredo que você deve consertar, e um segredo que
você deve partilhar com o menor número de pessoas possíveis. Vasilisa precisa de sua vaga no
Conselho, e isso pode ser feito. Ela não é a última Dragomir. Outro vive, o filho ilegítimo de Eric
Dragomir. Não sei de mais nada, mas se você puder encontrar esse filho ou filha, você dará a
Vasilisa o poder que ela merece. Não importa suas faltas e temperamento perigoso, você é a
única que sinto que pode cumprir essa tarefa. Não perca tempo em cumpri-la.

- Tatiana Ivashkov. 

As palavras não haviam mudado desde as ultimas cem vezes que as li, nem as perguntas que
elas sempre disparavam. O bilhete era verdadeiro? Tatiana realmente o tinha escrito? Ela tinha
– apesar de sua atitude hostil – confiado a mim essa perigosa informação? Haviam doze
famílias reais que faziam decisões para os Moroi, mas para todas intenções e propósitos,
poderia muito bem ter apenas onze. Lissa era a última de sua linhagem, e sem outro membro
da família Dragomir, a lei Moroi dizia que ela não tinha poder para votar com o Conselho que
tomava nossas decisões. Algumas leis bem ruins já tinham sido feitas, e se o bilhete era
verdade, mais viriam. Lissa lutaria contra essas leis – e algumas pessoas não iriam gostar disso,
pessoas que já tinham demonstrado sua ânsia de matar.

Outro Dragomir.

Outro Dragomir significa que Lissa poderia votar. Mais um voto no Conselho poderia  mudar
tanta coisa. Poderia mudar o mundo Moroi. Poderia mudar meu mundo – digamos, tipo, se eu
seria condenada ou não. E certamente, poderia mudar o mundo de Lissa. Todo esse tempo ela
acreditou estar sozinha. Ainda sim... eu me perguntava se Lissa daria as boas vindas a um meio
irmão. Eu aceitei que meu pai era um canalha, mas Lissa sempre pos o dela em um pedestal,
acreditando que ele era o melhor. Essa notícia viria como um choque, e embora tenha
treinado todo minha vida para manter ela segura de ameaças físicas, eu estava começando a
pensar que haviam outras coisas de que ele precisava ser protegida também.

Mas primeiro, eu precisava da verdade. Eu precisava saber se esse bilhete realmente tinha
vindo de Tatiana. Eu tinha certeza que poderia descobrir, mas envolvia algo que eu odiava
fazer.

Bem, porque não? Não era como se eu tivesse outra coisa pra fazer agora.
Me levantando da cama, eu dei minhas costas para as barras e encarei a parede, usando-a
como um ponto para me focar. Me preparando, me lembrando que sempre era forte o
bastante para manter o controle, eu soltei as barreiras mentais que eu sempre,
inconscientemente, mantinha em minha mente. Uma grande pressão se ergueu, como se o ar
estivesse saindo de um balão.

E de repente, eu estava cercada de fantasmas.

DOIS
 
COMO SEMPRE, ERA DESORIENTADOR. Rostos e crânios, translúcidos e luminescentes, todos
pairando ao meu redor. Eles se atraiam a mim, pairando em uma nuvem  como se
desesperadamente precisassem de algo. E na verdade, eles provavelmente precisavam. Os
fantasmas que permaneciam nesse mundo não tinham descanso, almas que tinham motivos
para voltar. Quando Lissa me trouxe dos mortos, eu permaneci conectada ao mundo deles.
Tinha sido preciso muito trabalho e auto controle para aprender a bloquear os fantasmas que
me seguiam. As wards mágicas que protegiam a Corte Moroi na verdade mantinham a maior
parte dos fantasmas longe de mim, mas dessa vez, eu queria eles aqui. Dar a eles acesso, atraí-
los... bem, era algo perigoso. 

Algo que me disse que se havia algum espírito sem paz, seria a rainha que tinha sido
assassinada em sua própria cama. Eu não vi nenhum rosto familiar neste grupo, mas não perdi
a esperança. 

“Tatiana,” eu murmurei, focando meus pensamentos no rosto da rainha morta. “Tatiana,
venha até mim.” 

Uma vez fui capaz de convocar um fantasma facilmente: meu amigo Mason, que foi morto por
um Strigoi. Embora Tatiana e eu  não éramos tão próximas quando Mason e eu tínhamos sido,
certamente tínhamos uma conexão.Por um tempo, nada aconteceu. O mesmo borrão de
rostos estava diante de mim, na cela, e eu comecei a me desesperar.Então, de repente, ela
estava ali. 

Ela estava com as roupas que havia sido assassinada, uma camisola e um roupão cobertos de
sangue. Suas cores estavam fracas, piscando como a tela de uma TV funcionando mal. Mesmo
assim, a coroa em sua cabeça dava a ela o mesmo ar de realeza que eu lembrava. Assim que
ela materializou, ela não disse ou fez nada. Ela simplesmente me encarou, seu olhar negro
praticamente perfurando minha alma.  Várias emoções passaram pelo meu peito. Aquela
reação que eu sempre tinha quando estava perto de Tatiana – raiva e ressentimento –
aumentaram. Então,  foi silenciada pela surpreendente onda de simpatia. A vida de ninguém
deveria  terminar como a dela. 

Eu hesitei,  temendo que os guardas me ouvissem. De alguma forma, eu tinha a sensação que
o volume da minha voz não importava, e nenhum dele podia ver o que eu vi. Eu ergui o
bilhete. 

“Você escreveu isso?” eu suspirei. “Isso é verdade?” 

Ela continuou a encarar. O fantasma de Mason tinha se comportado de forma similar.
Convocar os mortos era uma coisa;  se comunicar com eles era outra bem diferente.

“Eu preciso saber. Se tem outro Dragomir, eu vou encontrá-lo.” Não tinha porque dizer que eu
não estava em posição para encontrar ninguém. “Mas você tem que me dizer. Você escreveu
essa carta? É verdade?” 

Apenas aquele olhar louco me respondeu. Minha frustração cresceu, e a pressão de todos
aqueles espíritos começou a me dar dor de cabeça. Aparentemente, Tatiana era tão irritante
morta quanto tinha sido viva.

Eu estava prestes a trazer minhas proteções de volta e afastar os fantasmas quando Tatiana
fez o menos dos movimentos. Foi um pequeno aceno, quase indetectável. Seus olhos duros
então foram do bilhete em minha mão, e , do nada – ela desapareceu.

Eu coloquei de volta minhas proteções, usando toda minha vontade para me fechar aos
mortos. A dor de cabeça não desapareceu, mas os rostos sim. Eu afundei de volta na cama e
encarei o bilhete sem vê-lo. Ali estava minha resposta. O bilhete era real. Tatiana o tinha
escrito. De alguma forma, eu duvidava eu o fantasma dela tivesse motivos pra mentir.

Me esticando, eu descansei minha cabeça no travesseiro e esperei aquela terrível sensação
passar. Eu fechei meus olhos e usei o laço de espírito para retornar e ver o que Lissa estava
fazendo. Desde minha prisão, ela esteve ocupando implorando e discutindo em meu nome,
então esperei encontrar mais do mesmo. Ao invés disso... ela estava comprando um vestido.

Eu quase fiquei ofendida pela frivolidade da minha melhor amiga, até que percebi que ela
estava procurando por um vestido para o funeral. Ela estava em uma das lojas da Corte, uma
que servia as famílias reais. Para minha surpresa, Adrian estava com ela. Ver seu rosto familiar
e bonito, acalmou um pouco do medo dentro de mim. Uma rápida vasculhada em sua mente,
me disse porque ele estava lá: ela o convenceu a ir, porque não queria que ele ficasse sozinho.

Eu podia entender porque. Ele estava completamente bêbado. Era surpreendente que ele
conseguisse ficar de pé, na verdade, eu suspeitava que a parede em que ele estava inclina era
tudo que o mantinha erguido. O cabelo castanho dele estava uma confusão – e não da forma
proposital que ele geralmente arrumava. Seus olhos verdes profundos estavam vermelhos.
Como Lissa, Adrian era um usuário de espírito.  Ele tinha uma habilidade que ela ainda não
tinha: ele podia visitar os sonhos das pessoas. Eu esperei que ele me visitasse desde que fui
presa, e agora fazia sentido o porque dele não ter feito. Álcool atordoava espírito. De certa
forma, isso era algo bom. O espírito em excesso cria uma escuridão que leva os seus usuários a
insanidade. Mas passar a vida eternamente bêbado também não é muito saudável.

Ver ele através dos olhos de Lissa disparou uma confusão emocional quase tão intensa quanto
a que eu tinha experimentado com Tatiana. Eu me sentia mal por ele. Ele estava obviamente
preocupado e chateado por mim., e os eventos da ultima semana o tinham ocupado tanto
quanto o resto de nós. Ele também perdeu sua tia a quem, apesar de sua atitude brusca, ele
gostava.

Ainda sim, apesar de tudo isso, eu me senti.... desprezada. Isso era injusto, talvez, mas não
conseguia evitar. Eu gostava tanto dele e entendia o porque dele estar chateada, mas havia
formas melhores de lidar com sua perda. Seu comportamento era quase covarde. Ele estava se
escondendo de sues problemas com uma garrafa, algo que ia contra toda minha natureza. Eu?
Eu não podia deixar meus problemas ganharem sem lutar.

“Veludo,” a lojista disse a Lissa com certeza. A mulher Moroi ergueu um volumoso vestido de
gala. “Veludo é uma tradição entra a corte real.”

Junto com o resto da fanfarra, o funeral de Tatiana ia ter uma escolta cerimonial andando
junto com o caixão, com um representante de cada família. Aparentemente, ninguém se importava que  Lissa cumprisse aquele papel pela sua família. Mas votar? Esse era outro
assunto. 

Lissa olhou o vestido. Parecia mais uma fantasia de Halloween do que um vestido de funeral.
“Está 32 graus lá fora,” disse Lissa. “E úmido.” 

“Tradição exige sacrifícios,” a mulher disse de forma dramática. “Assim como a tragédia.” 

Adrian abriu sua boca, sem duvidas para dizer algum comentário desapropriado de gozação.
Lissa deu a ele um olhar afiada que o manteve quieto. “Não tem, eu não sei, alguma opção
sem mangas?” 

Os olhos da vendedora se alargaram. “Ninguém nunca usou manca curta para um funeral real.
Não seria certo.” 

“Que tal shorts?” perguntou Adrian. “Tem algum problema se usarmos com uma gravata?
Porque é com isso que eu vou.” 

A mulher parecia horrorizada.Lissa deu a Adrian um olhar de desdém, não por causa do
comentário – que ela achou divertido – mas porque ela também estava enojada com seu
constante estado de intoxicação. 

“Bem, ninguém me trata como alguém realmente da realeza,” disse Lissa, se voltando para o
vestido. “Não tem porque agir como uma agora. Me mostre o que você tem de manga cavada
e manga curta.” 

A vendedora  fez uma careta, mas obedeceu. Ela não tinha problemas em aconselhar a realeza
sobre moda mas não se atreveria a ordenar que fizessem ou usassem qualquer coisa. Isso era
parte das classes do nosso mundo. A mulher andou pela loja e encontrou os vestidos
requisitas, assim que o namorado de Lissa e sua tia entraram na loja. 

Christian Ozera, eu pensei, era como Adrian deveria estar agindo. O fato de que eu sequer
podia pensar assim era surpreendente. As coisas realmente mudaram, já que estou vendo
Christian como um modelo a se seguir. Mas era verdade. Eu observei ele com Lissa a última
semana, e Christian esteve determinado e firme, fazendo o que podia para ajudar ela a lidar
com a morte de Tatiana e minha prisão. Pela sua cara agora, era obvio que ele tinha algo
importante a dizer. 

Sua tia, Tasha Ozera, era outra que permanecia forte e com graça sobre pressão. Ela o criou
depois que seus pais se tornaram Strigoi – e atacaram ela, deixando Tasha com cicatrizes em
um lado de seu rosto. Moroi sempre confiaram em guardiões para defendê-los, mas depois
desse ataque, Tasha decidiu tomar providencias com as próprias mãos. Ela aprendeu a lutar,
treinou com todo tipo de corpo a corpo e armas. Ela era bem fodona e constantemente insistia
que outros Moroi deveriam aprender combate também. 

Lissa soltou o vestido que estava examinando e foi até Christian ansioso. Depois de mim, ela
não confiava em mais ninguém no mundo, tanto quanto ele. Ele tinha sido sua pedra durante
tudo isso. 

Ele olhou ao redor, não parecendo muito alegre por estar cercado de vestidos. “Vocês estão
fazendo compras?” ele perguntou, olhando de Lissa para Adrian. “Tirando um pouco de tempo
para garotas?”


“Hey, você tem benefícios em mudar seu guardarroupa,” disse Adrian. “Além do mais, eu
aposto que você ficaria ótimo em uma bata.”

Lissa ignorou a conversa de homem e se focou nos Ozeras. “O que você descobriu?”

“Ele s decidiram não agir,” disse Christian. Seus lábios curvados em desdém. “Bem, nenhum
tipo de punimento.”

Tasha acenou. “Estamos tentando forçar a ideia de que ele apenas pensou que Rose estava em
perigo e pulou antes de perceber o que estava acontecendo.”

Meu coração parou. Dimitri. Eles estavam falando de Dimitri.

Por um momento, eu não estava mais com Lissa. Eu não estava mais na minha cela. Ao invés
disso, eu estava de volta ao dia da minha prisão. Eu estava discutindo com Dimitri na cafeteria,
xingando ele por sua recusa continua de conversar comigo, muito menos continuar nossa
antiga relação. Naquele instante eu decidi que tinha terminado tudo, que as coisas realmente
tinham acabado e que eu não ia permitir que ele continuasse a partir meu coração. Foi quando
os guardiões vieram atrás de mim, e não importava o que Dimitri dizia sobre seu tempo como
Strigoi tornar impossível  ele me amar, ele reagiu como um raio para me defender. Ele estava
em menor número, mas não se importou. O olhar em seu rosto – e meu próprio entendimento
dele – me disseram tudo que eu precisava saber. Eu estava enfrentando uma ameaça. Ele
tinha que me proteger.

E ele o tinha feito. Ele lutou como o deus que ele foi em na Academia St. Vladimir, quando me
ensinou como lutar com Strigoi. Ele incapacitou mais guardiões naquela cafeteria do que um
homem deveria ser capaz. A única coisa que  terminou tudo – e eu realmente acredito que ele
teria lutado até seu ultimo suspiro – tinha sido minha intervenção.  Eu não sabia, naquela hora,
o que estava acontecendo e porque uma legião de guardiões queria me prender. Mas eu
percebi que Dimitri corria sério risco de prejudicar seu já frágil status na corte. Um Strigoi
restaurado não era algo conhecido, e muitos ainda não confiavam nele. Pouco eu sabia do que
estava guardado para mim.

Ele foi a minha audiência – escoltado – mas nem Lissa nem eu o tínhamos visto desde então.
Lissa esteve trabalhando duro para inocentar ele de qualquer coisa, temendo que eles o
prendessem de novo. E eu? Eu estive tentando dizer a mim mesma para não pensar demais no
que ele tinha feito. Minha prisão e potencial execução tinham precedente. Ainda sim... eu
ainda me preocupava. Porque ele tinha feito isso? Porque ele tinha arriscado sua vida pela
minha? Foi uma reação instintiva a ameaça? Ele o tinha feito como um favor a Lissa, a quem
ele jurou ajudar por tê-lo libertado? Ou ele tinha o feito porque ainda tinha sentimentos por
mim?

Eu ainda não tinha a resposta, mas ver ele assim, como o poderoso Dimitri do meu passado,
tinha remexido sentimentos que eu estava desesperadamente tentando superar. Eu continuei
tentando assegurar a mim mesma que se recuperar de uma relação leva tempo. Sentimentos
que demoram a sumir são naturais. Infelizmente, levava mais tempo superar um cara quando
ele se joga no perigo por você.

Independentemente, as palavras de Christian e Tasha me deram esperança sobre o destino de
Dimitri. Afinal de contas, eu não era a única andando por uma linha tenua entra a vida e a
morte. Aqueles convencidos que Dimitri ainda era um Strigoi queriam empalar seu coração.

“Eles estão mantendo ele confinado de novo,” disse Christian. “Mas não numa cela. Só em seu
quarto, com alguns guardas. Eles não querem ele solto pela Corte até tudo se acalmar.”

“Isso é melhor que prisão,’ admitiu Lissa.

“Ainda é um absurdo,” respondeu Tasha, mais para ela mesma do que para os outros. Ela e
Dimitri foram amigos por anos, e uma vez ela quis levar a relação a outro nível.  Ela se
conformou com amizade, e seu ultraje pela injustiça feita com ele era quase tão grande quanto
o nosso. “Eles deveriam ter deixado ele ir assim que se tornou um dhampir novamente.Assim
que as eleições forem feitas, vou me certificar que ele seja liberto.”

“E é isso que é estranho...” os olhos azuis de Christian se estreitaram pensativos. “Nós ouvimos
que Tatiana disse a outros antes dela – antes dela – “ Christian hesitou e olhou agitado para
Adrian. A pausa não era  característica de Christian, que geralmente falava o que pensava sem
pestanejar.

“Antes dela ser assassinada,” disse Adrian, sem olhar para nenhum deles. “Continue.”

Christian engoliu. “Um,  yeah. Eu acho – não em publico  - ela anunciou que ela acreditava que
Dimitri era realmente um dhampir novamente. O plano dela era ajudar ele a ser mais aceito
assim que as outras coisas se acalmassem.” As ‘outras coisas’ eram a lei de idade mencionada
no bilhete de Tatiana, aquela que dizia que dhampirs que fizessem 16 anos seriam forçados a
se formar e defender os Moroi. Isso tinha me enfurecido, mas como tantas outras coisas
agora... bem, isso estava meio que deixado em espera.

Adrian fez um estranho som, como se estivesse limpando sua garganta. “Ela não fez isso.”

Christian deu de ombros. “Muitos dos conselheiros dela disseram que ela fez. Esse é o rumor.”

“Eu tenho dificuldades em acreditar também,” Tasha disse a Adrian. Ela nunca aprovou a
política de Tatiana e veementemente falou contra eles mais de uma ocasião. Mas a descrença
de Adrian não era política. A dele simplesmente vinha das idéias que ele sempre ouviu de sua
tia. Ela nunca deu qualquer indicio de que queria ajudar Dimitri recuperar seu antigo status.

Adrian não fez mais nenhum comentário, mas eu sabia que o assunto estava acendendo
faíscas de ciúmes dentro dele. Eu disse a ele que Dimitri estava no passado e que eu estava
pronta para seguir em frente, mas Adrian – como eu – deve ter sem duvidas imaginado quais
as motivações por trás da defesa galante de Dimitri.

Lissa começou a especular como eles poderiam tirar Dimitri de sua prisão domiciliar quando a
vendedora voltou com um vestido sem mangas que ela claramente não aprovava. Mordendo
os lábios, Lissa ficou em silencio. Ela pensou na situação de DImitri como algo para lidar
depois. Ao invés disso, ela se preparou para experimentar roupas e seguir seu papel como uma
boa garota da realeza.

Adrian se animou ao ver o vestido. “Tem algum cabresto ai?”

Eu voltei a minha própria cela, revolvendo os problemas que pareciam se acumular. Eu estava
preocupada tanto com Adrian como Dimitri. Estava preocupada comigo mesma. Eu também
estava preocupada com o tal Dragomir perdido. Eu estava começando a acreditar que a
história poderia ser real, mas não podia fazer nada sobre isso, o que me frustrava. Eu precisava
fazer algo quando se tratava de ajudar Lissa. Tatiana tinha me dito na sua carta para ter cuidado com quem eu falava sobre o assunto. Eu deveria passar essa missão para outra
pessoa? Eu queria cuidar disso, mas as grades e as paredes sufocantes ao meu redor diziam
que eu talvez não fosse capaz de cuidar de nada por um tempo, nem mesmo da minha própria
vida.

Duas semanas. 

Sem precisar de mais nenhuma distração, eu desisti e comecei a ler o livro de Abe, que era o
conto de uma prisão injusta, como eu esperava que fosse. Era muito bom e me ensinou que
fingir minha própria morte aparentemente não funcionaria como um método para escapar. O
livro inesperadamente revolvia a antigas memoras. Um calafrio passou pela minha espinha
quando me lembrei da leitura de Taro que uma Moroi chamada Rhonda tinha feito. Ela era tia
de Ambrose, e uma das cartas que ela tirou para mim mostravam uma mulher amarrada a
espadas. Um aprisionamento errado. Acusações. Calúnia. Merda. Eu estava realmente
começando a odiar aquelas cartas. Eu sempre insisti que eram uma fraude, ainda sim, elas
tinham a irritante tendência a se tornarem realidade. O fim de sua leitura tinha me mostrado
uma jornada, mas onde? Uma prisão de verdade? Minha execução?

Perguntas sem respostas. Bem vindo ao meu mundo. Sem opções por agora, eu achei que
seria melhor descansar. Me esticando na cama, eu tentei afastar aquelas constantes
preocupações. Não era fácil. Toda vez que eu fechava meus olhos, eu via um juiz , segurando
um martelo, me condenando a morte. Eu via meu nome nos livros de história, não como uma
heroína, mas como uma traidora. 

Deitada ali, sufocando meus próprios medos, eu pensei em Dimitri. Eu imaginei sua olhar firme
e praticamente podia ouvir ele me dando sermão.Não se preocupe agora com o que você não
pode mudar. Descanse quando puder para estar pronta para as batalhas de amanhã. Esse
conselho imaginado me acalmou. O sono veio, finalmente, pesado e profundo.  Eu me revirei
muitas vezes essa semana, então um verdadeiro descanso foi bem vindo.

Então –eu acordei. 

Eu sentei na cama, meu coração batendo. Olhando ao redor, eu procurei perigo – qualquer
ameaça que poderia ter me arrancado do meu sono. Não havia nada. Escuridão. Silencio. O
fraco barulho de cadeiras pelo corredor me disseram que os guardas ainda estavam por perto.

O laço, eu percebi. O laço tinha me acordado. Eu senti uma afiada, intensa sensação de... o
que? Intensidade. Ansiedade. Uma onda de adrenalina. Pânico passou por mim, e eu me
afundei dentro de Lissa, tentando encontrar o que tinha causado essa emoção dentro dela. 

O que eu encontrei foi... nada.

O laço se fora. 

TRÊS 



BEM, NÃO SE FORA EXATAMENTE. 

Ficou mudo. Meio como eu tinha me sentido imediatamente depois dela restaurar Dimitri de
volta a um dhampir. A mágica tinha sido tão forte ali que tinha “queimado” nossa ligação. Não
havia uma onda de magia agora. Era quase como se a escuridão fosse intencional por parte
dela. Como sempre, eu ainda sentia Lissa: ela estava viva, ela estava bem. Então o que me
impedia de senti-la mais? Ela não estava dormindo, porque eu podia sentir uma sensação de
alerta consciência do outro lado da parede. Espirito estava ali, escondendo ela de mim... e ela
estava fazendo isso acontecer.

O que diabos? Era um fato de que nosso laço só funcionava de um lado. Eu podia sentir ela; ela
não podia me sentir. Do mesmo jeito, eu podia controlar quando ia na mente dela.
Geralmente, eu tentava me manter longe (excluindo-se o tempo de cativeiro na prisão), numa
tentativa de proteger sua privacidade. Lissa não tinha tanto controle, e sua vulnerabilidade a
enfurecia as vezes. De vez em quando, ela podia usar seu poder para se proteger de mim, mas
era raro, difícil, e requeria um considerável esforço de sua parte. Hoje, ela estava conseguindo,
e conforme a condição persisita, eu podia sentir a força dela. Me manter de fora não era fácil,
mas ela estava conseguindo. É claro, eu não me importava como. Eu queria saber porque. 

Era provavelmente meu pior dia de aprisionamento. Medo por mim mesma era uma coisa.
Mas por ela? Isso era agonizante. Se fosse minha vida ou a dela, eu teria andando até a
execução sem hesitar. Eu precisava saber o que estava acontecendo. Ela tinha sabido de algo?
O Conselho decidiu pular o julgamento e me executar? Lissa estava tentando me proteger
daquela noticia? Quanto mais espírito ela usava, mais ela colocava em perigo sua vida. Essa
parede mental exigia muita magia. Mas porque? Porque ela estava se arriscando? 

Eu fiquei surpresa, naquele momento, por perceber o quanto eu dependia do laço para saber
dela. Verdade: eu nem sempre dava boas vindas ao pensamento de outro pessoa em minha
mente. Apesar do controle que aprendi, sua mente as vezes ainda entrava na minha em
momentos que eu preferia não experimentar. Nada disso era uma preocupação agora –
apenas sua segurança era. Ser bloqueada era como ter um membro removido. 

O dia todo eu tentei entrar na sua mente. Toda vez, eu ficava de fora. Era enlouquecedor.
Nenhuma visita apareceu, e o livro e as revistas a muito tinham perdido seu objetivo. A
sensação de um animal enjaulado estava me preenchendo de novo, e eu passei uma enorme
quantidade de tempo gritando com meus guardas – sem resultado. O funeral de Tatiana era
amanha, e o relógio para o meu julgamento estava batendo alto. 

A hora de dormir veio, e a parede no nosso laço finalmente caiu – porque Lissa foi dormir. O
link entre nós era firme, mas sua mente estava fechada inconsciente. Eu não encontraria
respostas ali. Deixada sem mais nada, eu também fui dormir, me perguntando se seria cortada
novamente pela manha. 

Não fui. Eu e ela estávamos ligadas de novo, e eu fui capaz de ver o mundo pelos olhos dela
mais uma vez. Lissa acordou cedo, preparando-se para o funeral. Eu não vi nem senti nenhum
sinal do porque fui bloqueada um dia antes. Ela estava permitindo que eu voltasse a sua mente, como normalmente. Eu quase me perguntei se tinha imaginado ser cortada da mente
dela. 

Não... ali estava. Fraco. Dentro da sua mente, eu senti os pensamentos que ela escondia de
mim. Eles eram escorregadios. Cada vez que eu tentava alcançar um, eles caiam de minhas
mãos. Eu fiquei surpresa dela ainda conseguir usar mágica para isso, e também era uma clara
indicação que ela me bloqueou intencionalmente ontem. O que estava acontecendo? Porque
diabo ela precisaria esconder algo de mim? O que eu poderia fazer, presa nesse buraco dos
infernos? De novo, minha agitação cresceu. Que coisa terrível eu não sabia? 

Eu observei Lissa se aprontar, sem ver qualquer sinal de qualquer coisa anormal. O vestido que
ela escolher tinha mangas curtas e ia até seus joelhos. Preto, é claro. Mal era um vestido
inapropriado, mas ela saiba que ia chamar atenção de alguém. Em circunstancias diferente,
isso teria me deixado maravilhada. Ela escolheu usar seu cabelo solto, seu loiro palido
brilhando contra o preto do vestido quando ela se olhou no espelho. Christian encontrou Lissa
lá fora. Ele também se arrumou, eu tinha que admitir, usando uma camisa e grava. Ele
desenhou a linha de uma jaqueta, e sua expressão era uma estranha mistura de nervosismo,
segredo, e uma típica arrogância. Quando ele viu Lissa, no entanto, seu rosto
momentaneamente se transformou, ficando radiante e focado totalmente no olhar dela. Ele
deu a ela um pequeno sorriso e a pegou nos braços para um breve abraço. O toque dele a
trouxe contentamento e conformo, acalmando sua ansiedade. Eles voltaram recentemente,
depois de terminarem, e aquele tempo separados foi agonizante para ambos.

“vai ficar tudo bem,”ele murmurou, seu olhar de preocupação retornando. “Isso vai funcionar.
Podemos fazer isso.” 

Ela não disse nada mas apertou seus braços nele antes de se afastar. Nenhum deles falou
enquanto entravam no inicio do procedimento do funeral. Eu decidi que isso era muito
suspeito. Ela pegou a mão dele e se sentiu fortalecida. 

Os procedimentos do funeral para monarcas Moroi era o mesmo a séculos, não importa se a
Corte era na Romênia ou nessa nova casa na Pensilvânia. Esse era o jeito Moroi. Eles misturam
tradição com o modernismo, magia com tecnologia. 

O caixão da rainha seria carregado por portadores de fora do palácio e levado com grande
cerimônia através da Corte, até alcançar a Catedral. Lá, um grupo selecionado entraria para a
missa. Depois, Tatiana seria enterrada no cemitério da igreja, tomando seu lugar ao lado de
outros monarcas e importantes membros da realeza. 

A rota do caixão era fácil de ver. Postes vermelho e pretos marcavam cada lado. Pétalas de
Rosa foram colocadas no chão por onde o caixão passaria. Nas laterais, as pessoas se
amontoavam juntas, esperando ver a antiga rainha. Muitos Moroi tinham vindo de todas as
partes, alguns para ver o funeral e alguns para ver as eleições do monarca que aconteceria na
próxima semana. 

A família real – a maioria usando o vestido preto de veludo -  já estava tomando seu lugar no
prédio. Lissa parou do lado de fora para se separar de Christian, já que ele nunca esteve na
disputa para representar sua família num evento tão honrado. Ela deu a ele outro abraço
apertado e um leve beijo. Assim que se afastaram, houve um brilho de sabedoria naqueles
olhos azuis – aquele segredo que estava escondido de mim. 

Lissa passou pela multidão, tentando chegar a entrada e encontrar o ponto de partida da
procissão. O prédio não parecia côo o antigo palácio ou castelo da Europa. Suas grandes
pedras e janelas combinavam com a estrutura da Corte, mas algumas características – seus
grandes e largos degraus de mármore – se distinguiam de outros prédios. Um puxão no braço
de Lissa impediu o progresso, quase fazendo ela dar um encontrão num senhor Moroi.

“Vasilisa?” Era Daniella Ivashkov, a mãe de Adrian. Daniella não era tão ruim, e ela não se
importava que eu e Adrian estivéssemos saindo – ou pelo menos, ela não se importava antes
deu ser acusada de assassinato. A maior parte da aceitação de Daniella se baseava no fato de
que ela acreditava que Adrian e eu nos separaríamos de qualquer forma assim que eu
recebesse minha missão de guardiã. Daniella também tinha convencido um de seus primos,
Damaon Tatus, a ser meu advogado – uma oferta que rejeitei quando escolhi Abe a me
representar no lugar dele. Eu ainda não tinha certeza se tomei a melhor decisão, mas
provavelmente queimou a forma como Daniella me via, o que eu me arrependia.

Lissa de um nervoso sorriso. Ela estava ansiosa para se juntar a procissão e acabar com tudo
isso. “Oi,” ela disse.

Daniella estava vestida de veludo preto e até tinha pequenos diamantes colocados em seu
cabelo negro. Preocupação e agitação marcavam seu rosto bonito. “Você viu Adrian? Não
encontrei ele em lugar algum. Nós checamos seu quarto.”

“Oh,” Lissa desviou o olhar.

“O que?” Daniella quase sufocou ela. “O que você sabe?”

Lissa suspirou. “Eu não tenho certeza de onde ele esta, mas vi ele ontem a noite quando
estava voltando de uma festa.” Lissa hesitou, como se estivesse muito envergonhada para
contar o resto. “Ele estava... muito bêbado. Mais do que já vi. Ele estava saindo com algumas
garotas, e eu não sei onde. Desculpe, Lady Ivashkov. Ele provavelmente... bem, desmaiou em
algum lugar.”

Daniella soltou suas mãos, e demonstrou sua descrença. “Eu espero que ninguém note. Talvez
possamos dizer... que ele estava sobrecarregado de dor. Tem tanta coisa acontecendo.
Certamente ninguém vai notar. Você vai dizer a eles, certo? Você vai dizer o quão chateado ele
estava?”

Eu gosto de Daniella, mas essa obsessão com a imagem realmente esta começando a me
incomodar. Eu sabia que ela ama o filho, mas sua principal preocupação parecia ser menos
sobre o ultimo descanso de Tatiana e mais sobre o que os outros vão pensar sobre a quebra de
protocolo. “É claro,” disse Lissa. “Eu não iria querer que alguém... bem, eu odiaria que isso se
espalhasse.”

“Obrigado. Agora vá.” Daniella gesticulou para as portas, ainda parecendo ansiosa. “Você
precisa tomar seu lugar.” Para surpresa de Lissa, Daniella deu um gentil tapinha em seu braço.
“E não fique nervosa. Você vai se sair bem. Só mantenha sua cabeça erguida.”

Guardiões que estavam parados na porta reconheceram Lissa como alguém com acesso e a
deixaram entrar. Lá, no foyer, estava o caixão de Tatiana. Lissa franziu, de repente
sobrepujada, e quase esqueceu o que estava fazendo ali.
Só o caixão já era uma obra de arte. Ele era feito de madeira preta, polido até brilhar.
Elaborados jardins foram pintados em cores metálicas de cado lado. Ouro brilhava em toda
parte, incluindo as haste que os portadores iriam segurar. Aquelas hastes estavam decoradas
com rosas cor da malva. Parecia que os espinhos e folhas iriam dificultar o aperto firme dos
portadores, mas isso era problema deles. 

Lá dentro, descoberta e deitada numa cama de mais rosas cor da malva, estava Tatiana. Era
estranho. Eu vejo corpos o tempo todo. Diabos, eu os crio. Mas ver um corpo que foi
preservado, deitado pacificamente e ornamentado... bem, era arrepiante. Era estranho para
Lissa também, particularmente já que ela não tinha que lidar com a morte tanto quanto eu.

Tatiana usava um vestido de seda que era de um tom púrpura – a cor tradicional para um
enterro real. O vestido tinha mangas longas que eram decoradas com um elaborado design de
pequenas perolas  Eu geralmente via Tatiana de vermelho – uma cor associada a família
Ivashkov – e eu estava feliz com o púrpura tradicional. Um vestido vermelho seria um lembrete
muito forte das fotos ensangüentadas dela que eu vi na audiência, fotos que eu tentava
bloquear. Fios de gemas e mais perolas estavam em seu pescoço, e uma coroa de ouro cheia
de diamantes e ametistas estava em seu cabelo. Alguém tinha feito um bom trabalho com a
maquiagem de Tatiana, mas nem eles puderam esconder a brancura de sua pele. Moroi já são
naturalmente brancos. Mortos, eles são como carvão – como Strigoi. A imagem atingiu Lissa
tão vividamente que ela se balançou e teve que desviar o olhar. O cheiro de rosas enchia o ar,
mas havia um cheiro de apodrecimento misturado em toda aquela doçura.

O coordenador do funeral viu Lissa e mandou que ela fosse a sua posição – depois de fazer
uma careta pela escolha do vestido de Lissa. As palavras afiadas fizeram Lissa voltar a
realidade, e ela foi para linha com 5 outros membros da realeza do lado direito do caixão. Ela
tentou não olhar muito para o corpo da rainha, e direcionar seu olhar para o outro lado. Os
portadores logo apareceram e ergueram o caixão usando as hastes de rosas para colocar o
caixão em seus ombros e devagar o carregaram para multidão. Todos os portares eram
dhampirs. Eles usavam ternos formais, o que me confundiu a principio, mas então percebi que
todos eram guardiões da Corte – a nçao ser. Ambrose. Ele parecia tão lindo como sempre e
encarava a frente enquanto fazia seu trabalho, o rosto em branco e sem qualquer expressão.

Eu me perguntei se Ambrose estava em luto por Tatiana. Eu estive tão fixada em meus
próprios problemas que fico esquecendo que uma vida foi perdida, uma vida que muitos
amaram. Ambrose defendeu Tatiana quando eu fiquei com raiva por causa da lei da idade.
Observando ele pelos olhos de Lissa, eu desejei estar lá para falar com ele pessoalmente. Ele
deveria saber algo mais sobre a carta que ele me deu no dia da audiência. Certamente ele não
era apenas o entregador.

A procissão seguiu em frente, interrompendo meus pensamentos sobre Ambrose. Antes e a
frente do caixão haviam outras pessoas. Pessoas da realeza com roupas elaboradas, fazendo
uma demonstração. Guardiões uniformizados carregavam bandeiras. Musicos com flautas
andavam atrás, tocando um tom fúnebre. Por sua parte, Lissa era muito boa em aparecer em
público e conseguiu seguir o passo lento e firme com elegância e graça, seu olhar firme e
confiante. Eu não podia ver seu corpo, é claro, mas era fácil imaginar o que os espectadores
viam. Ela era linda e própria da realeza, digna de herdar o legado Dragomir, e com sorte mais e
mais pessoas iam perceber isso. Nos pouparia muitos problemas se alguém mudasse a lei pelo
procedimento normal, para não termos que depender de uma busca por um irmão perdido.

Andar pela rota do funeral levou muito tempo. Mesmo quando o sol estava começando a
afundar no horizonte, o calor do dia ainda estava no ar. Lissa começou a suar mas sabia que seu desconforto não era nada comparado ao dos portadores. Se a multidão que observava
sentia o calor, eles não demonstraram. Eles erguiam seus pescoços para ter um ultimo
deslumbre do espetáculo passando diante deles. Lissa não prestou muita atenção nas pessoas
ao redor, mas em seus rosto, eu vi que aquele caixão não era seu único foco. Eles também
observavam Lissa. O rumor do que ela tinha feito por Dimitri tinha passado pelo mundo Moroi,
e embora muitos aqui ainda estivesses sépticos sobre sua habilidade de curar, haviam muitos
que acreditavam. Eu vi expressões de maravilha e temor na multidão, e por um segundo, eu
me perguntei quem eles realmente vieram ver: Lissa ou Tatiana? 

Finalmente, a catedral apareceu a vista, o que era uma boa noticia para Lissa. O sol não
matava Moroi como Strigoi, mas o calor e a luz do sol ainda era um desconforto para muitos
vampiros. A procissão estava quase no fim, e ela, sendo uma daquelas que tinha permissão
para entrar na igreja, logo iria aproveitar o ar condicionado. 

Enquanto eu estava os arredores, eu não conseguia parar de pensar que circulo de ironia
minha vida era. Dos lados da igreja  haviam duas gigantes estatuas de monarcas Moroi, um rei
e uma rainha que tinham ajudado os Moroi a prosperar. Embora eles estivessem a uma
distancia considerável da igreja, as estatuas brilhavam luminosas, como se estivessem
examinando tudo. Perto da estatua da rainha, havia um jardim que eu conhecia bem. Eu fui
forçada a limpa-la em punimento por fugir para Las Vegas. Meu verdadeiro propósito naquela
viajem – que ninguém sabia – tinha sido libertar Victor Ivaskov da prisão. Victor era um inimigo
antigo,  mas ele e seu irmão Robert, um usuário de espírito, sabiam o que precisávamos para
curar Dimitri. Se algum guardião descobrisse que eu libertei Victor – e depois o perdi – meu
castigo seria muito pior do que cortar grama e limpar estatuas. Pelo menos fiz um bom
trabalho com o jardim, eu pensei amargamente. Se eu fosse executada, eu deixaria uma marca
duradoura na Corte. 


Os olhos de Lissa pairaram em uma das estatuas por um bom tempo antes de voltar sua
atenção a igreja. Ela estava suando muito agora, e eu percebi que uma parte disso não era
apenas calor. Ela também estava ansiosa. Mas porque? Porque ela estava tão nervosa? Isso
era apenas uma cerimônia. Tudo que ela tinha que fazer era seguir a onda. Ainda sim... ali
estava de novo. Outra coisa estava incomodando ela. Ela ainda estava mantendo alguns
pensamentos longes de mim, mas alguns vazaram em sua preocupação. 

Muito perto, muito perto. Estamos nos movendo muito rápido. 

Rápido? Não pela minha estimativa. Eu nunca teria conseguido lidar com esse passo lerda e
firme. Eu me sentia especialmente mal pelos portadores. Se eu fosse um, eu teria dito pro
inferno com a propriedade e tinha começado a correr até meu destino final. É claro, isso
poderia ter remexido o corpo. Se o coordenador do funeral estava chateado com o vestido de
Lissa, não tinha como saber como ela reagiria se Tatiana caísse do caixão. 

Nossa vista da catedral estava ficando clara, seus domos brilhando em âmbar e laranja com o
sol que se punha. Lissa ainda estava muitos metros de distancia, mas o padre parado na frente
estava claramente visível. Suas festes eram quase cegantes. Elas eram feitas de fios de ouros,
longas e cheias. Um chapéu com uma cruz, também de oura, estava em sua cabeça. Eu achava
que era de mal gosto para ele brilhar mais que as roupas da rainha, mas talvez essa fosse a
roupa normal dos padres em ocasiões formais. Talvez chamasse a atenção de Deus. Ele ergueu
seus braços dando boas vindas, mostrando mais daquele rico tecido. O resto da multidão e eu
não podíamos nos impedir de ficar deslumbrados com aquela linda visão. 


Então, você consegue imaginar minha surpresa quando as estatuas explodiram.

QUATRO



E QUANDO EU DIGO QUE ELAS explodiram, eu quero dizer que elas explodiram.

Chamas e fumaça se desdobraram como pétalas de uma flor recém brochada enquanto
aqueles pobres monarcas explodiam em pedaços de rocha. Por um momento, eu fiquei
atordoada. Era como ver um filme de ação, a explosão passando pelo ar e fazendo o chão
tremer. Então, o treinamento dos guardiões tomou conta. Observação critica e calculismo
tomou conta. Eu imediatamente notei que a carga explodiu em direção ao outro lado do
jardim. Pequenos pedaços de pedra e pó choviam na procissão funerária, mas nenhum grande
pedaço de rocha atingiu Lissa nem ninguém parado por perto. Assumindo que as estatuas não
tinha entrado em combustão espontânea, quem quer que fosse que as tinha explodido o fez
de uma forma precisa.

Deixando de lado a logística, enormes pedaços de pilares de fogo ainda eram bem
assustadores. Caos tomou conta enquanto todos tentavam se afastar. Só que, todos tomaram
rotas diferentes, então colisões e embaraços ocorreram. Até os portadores  soltaram sua
preciosa carga e se mandaram. Ambrose foi o ultimo a fazer isso, sua boca aberta e olhos
esbugalhados enquanto ele encarava Tatiana, mas outro olhar nas estatuas fez ele sair
correndo. Alguns guardiões tentaram manter a ordem, fazendo as pessoas voltarem pelo
caminho, mas não deu muito resultado. Cada um estava por si, muito aterrorizados e em
pânico para pensar razoavelmente.

Bem, todos exceto Lissa.

Para minha surpresa, ela não estava surpresa.

Ela estava esperando a explosão.

Ela não correu, apesar das pessoas a empurrando para o lado. Ela ficou parada onde estava
quando as estatuas explodiram, as estudando e a confusão que elas causaram. Em particular,
ela parecia preocupada com qualquer um na multidão que poderia ter se machucado com a
explosão. Mas, não. Como eu já tinha observado, não parecia haver feridos. E se haviam, ia ser
por causa da correria.

Satisfeita, Lissa virou e começou a andar para longe com os outros (Bem, ela estava andando,
eles corriam). Ela só se afastou um pouco quando ela viu um enorme grupo de guardiões irem
em direção a igreja, os rostos preocupados. Alguns pararam para ajudar os que fugiam da
destruição, mas a maioria estava indo ver o que tinha acontecido.

Lissa parou de novo, fazendo o cara atrás dela bater em suas costas, mas ela mal sentiu o
impacto. Ela observou os guardiões, contando quantos eram, e então mais uma vez voltou a
andar. Seus pensamentos escondidos estavam começando a se revelar. Finalmente, eu
comecei a ver partes do plano que ela escondeu de mim. Ela estava contente. Nervosa
também. Mas no geral, ela se sentia –

Uma comoção na cadeia me fez voltar a minha própria mente. O silencio usual na área de
prisão foi interrompido e agora estava cheio de grunhidos e exclamações. Eu pulei de onde estava sentada e me pressionei contra as grades, tentando ver o que estava acontecendo. Esse
prédio estava prestes a explodir também? Minha cela só tinha vista a uma parede no corredor,
sem vista para a entrada. Eu, no entanto, vi os guardiões que normalmente ficavam no final do
corredor passando rapidamente por mim, em direção ao que quer que fosse que estava
ocorrendo. 

Eu não sabia o que isso significa para mim e me preparei para tudo, amigo ou inimigo. Até
onde eu sabia, poderia ser um grupo político lançando um ataque na Corte para deixar claro
seu desprezo contra o governo Moroi. Olhando ao redor, eu xinguei silenciosamente,
desejando ter algo para me defender. O mais próximo que eu tinha era o livro de Abe, que não
servia pra nada. Se ele era o fodão que ele fingia ser, ele realmente teria me entregado o livro
com algum documento dentro. Ou me entregue algo maior, como Guerra e Paz. 

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